quinta-feira, 24 de julho de 2008

Internacionalismo proletário


A produção teórica do Marxismo Nintendismo está em processo de tradução para os idiomas acessíveis ao proletariado de todo o mundo. Iniciou-se a tradução para o inglês (com texto já disponível no site) e para o japonês, e estão em curso as traduções para a língua espanhola e para a língua francesa (nas palavras de Leon Trotsky, tão bela, tão acabada em suas formas, com um polimento que sem dúvida alguma algo deve a um instrumento tão aguçado como a guilhotina, e que será de novo, em consequência da dialética histórica, precipitada numa funda forja para uma transformação a alta temperatura. Sem nada perder de sua perfeita lógica, adquirirá maior maleabilidade. A revolução dialética da linguagem exprimirá somente uma nova revolução no domínio das idéias, a qual não se pode dissociar duma revolução no domínio das coisas.).Este passo é fundamental no processo de elevação da consciência dos povos de todos os países em direção à consciência desta síntese da experiência humana, o marxismo. É necessário reforçar e avançar este princípio irremovível do internacionalismo da classe operária. É neste sentido que caminhamos.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Nintendo and Revolution - For workers around the world

Dada a necessidade de tornar disponível os textos do Movimento Marxista-Nintendista para trabalhadores de todo o mundo de modo a reforçar o princípio do internacionalismo proletário, o Comitê do MMN decidiu disponibilizar essas obras em outras línguas. O texto a seguir é o primeiro de muitos textos a serem traduzidos para outras línguas

Due to the need of making the texts of the Marxist-Nintendist Movement for workers around the world so that we can reinforce the principle of proletarian internationalism, the Committee of the MNM decided to made these works available in other languages. The following one is the first of many texts to be translated into other languages.

Nintendo and Revolution

Thinking that scientific research and technological development can still become material well-being for mankind is at least an anachronism. This mentality can refer to a moment in history when capitalist accumulation could minimally create some progress for society. But the productive forces of humanity don’t grow anymore. Now, capitalism only reproduces itself at the cost of the destruction of humanity, and the crisis of the production system is also the crisis of the entire superstructure necessary to maintain it and everything that it has produced - and here I refer to the death of the bourgeois culture . The example of research for the development of games is very representative. Consider a PS3, the newest of the last bastions of international capital and sign of the supposed welfare state of bourgeois society. However, who produces them? The whole industry of mature capitalist countries (Japan, in the case of Sony) bases its production in countries of later development, where the lowest development of productive forces and the primary stage of working classes allows a higher rate of extraction of surplus value - China, Singapore and Taiwan, for example. By cents for hour, Asian workers in semi-slave condition, similar to the British in the nineteenth century, produce the videogames that will be consumed in developed capitalist world. And all the research in gaming industry and high technology production are going to increase the value of goods and the total of machines that produce it. That means fewer hours of social work necessary for production and, consequently, due to the capitalist social division of labour dismisses proletarians whose work becomes unnecessary and increases exploitation of those who remain.

All technological advances, thus, mean only increasing the exploitation of the working class and, especially, the thickening of the huge mass of unemployed sentenced to complete barbarism in which is sinking the bourgeois world: the urban chaos (Sao Paulo has 60 square km of slums), the widespread misery, destruction of nature (and must be noticed what the industrial development has meant for this: 2007 will be the warmest year in history). This is the result of capitalism in decay. In the words of Marx: the more the value of the world of things increases, the more the value of the world of men is decreased. Well, it’s a question whether it is possible in any case to justify that capitalism spawns through the destruction of the planet and mankind. As for the culture in whose name this mode of production could do it, it´s even more absurd. How to defend the capital in name of the bourgeois art, cultural production of bourgeoisie, all long ago dead and buried? The bourgeoisie no longer has a historical project, doesn’t have anything of minimally progressive, and is limited to consume the corpse of a culture dating from its time of plenty; all it does is a grotesque parody of that already. For example, which dramaturg surpassed, in subsequent decades, the work that Oswald de Andrade had made on 20s and 30s? What is done today in any field of culture is a joke of bad taste when compared to the vanguards of the twentieth century. And it is not different with the video games. Every generation that happens increases parody. All games go to a ridiculous realism, the powerful image of the most moderns consoles moving closer to becoming the most sensitive imitation of the world, increasingly a mere mirror of reality and becoming each time more and more far from a hammer to break it. The shortcomings of the last Winning Eleven are not surpassed, and no matter how his aesthetic approaches to a real game of soccer, every day seems more distant the moment when we can say that the original International Superstar Soccer was exceeded.

It's like comparing what a Glauber Rocha or a Godard made in the 60s with what the blockbusters films today. The bourgeois art is dead , and we consume its corpse. However, in the field of culture, you can see remnants of creation that point to the future. Nintendo, vanguard of entertainment in previous decades, for example, creates the Wii (not for nothing originally baptized as Nintendo Revolution), which breaks with the way standard joystick – which Nintendo itself elevated at full potential, and that, despite the presence of the same old pictures of their platforms (Mario, Donkey Kong, Link - still to be overcome), raises the prospect of resuming the evolution of the videogames that goes idle since the age of 128 bits. More than a project-specific video game, Nintendo shows that it is possible a new culture, a new form of entertainment. But this project is completely unachievable within the limits of bourgeois legality. How to enjoy these video games in a world where every day there is less employment, and where those who still have a work, are increasingly spoiled by the Capitalist System? For decades this kind of social division of labour slows down the development of productive forces. It is no longer possible for us to perform all the potential of art and entertainment, unite them for life, while the capitalist mode of production continues to exist. This is the Marxist-Nintendist principle.


domingo, 11 de maio de 2008

Burguês Yamauchi é o mais rico do Japão


Hiroshi Yamauchi, 80 anos, agora é o homem mais rico do Japão. O motivo principal não poderia ser outro senão as vendas do Wii, graças ao pequeno console branco o patrimônio do presidente do conselho da Nintendo subiu de US$ 3 bilhões para um total de US$ 7,8 bilhões.

Casado e com um filho, o mestre Yamauchi de expressão marcante e inconfundível para os fãs foi nomeado o mais rico do Japão em um ranking anual oficial apresentado pela revista americana Forbes. Na segunda posição do ranking ficou o magnata Akira Mori, 71 anos, com um total apontado de US$ 7,7 bilhões. Em terceiro lugar - posição antes ocupada por Yamauchi - entrou Kunio Busujima, 83 anos, com US$ 5,4 bilhões de acordo com a Forbes. (Nintendo World - http://nintendoworld.uol.com.br/content.php?id=190)



Nosso amigo, até há pouco capitalisticamente arrogante, assume subitamente a atitude modesta de seu próprio trabalhador. Não trabalhou ele mesmo? Não executou o trabalho de vigilância e superintendência sobre o fiandeiro? Não cria valor também esse seu trabalho? Mas seu próprio capataz e seu gerente encolhem os ombros. Entrementes, já recobrou com um sorriso alegre sua fisionomia anterior. Ele troçou de nós com toda essa ladainha. Não daria um centavo por ela. Ele deixa esses e semelhantes subterfúgios e petas vazias aos professores da Economia Política, expressamente pagos para isso. Ele mesmo é um homem prático que nem sempre pensa no que diz fora do negócio, mas sempre sabe o que faz dentro dele. (...)

O valor de uso da força de trabalho, o próprio trabalho, pertence tão pouco ao seu vendedor quanto o valor de uso do óleo vendido ao comerciante que o vendeu. O possuidor de dinheiro pagou o valor de um dia da força de trabalho; pertence-lhe, portanto, a utilização dela durante o dia, o trabalho de uma jornada. A circunstância de que a manutenção diária da força de trabalho só custa meia jornada de trabalho, apesar de a força de trabalho poder operar, trabalhar um dia inteiro, e por isso, o valor que sua utilização cria durante um dia é o dobro de seu próprio valor de um dia, é grande sorte para o comprador, mas, de modo algum, uma injustiça contra o vendedor. Nosso capitalista previu o caso que o faz sorrir. O trabalhador encontra, por isso, na oficina, os meios de produção necessários não para um processo de trabalho de 6 horas, mas de 12”. (MARX, Karl. O Capital, cap. V)



O processo capitalista de produção baseia-se, em aparência, na troca de mercadoria por mercadoria de igual valor, e a troca de equivalentes é fato objetivo. O capitalista, possuidor da mercadoria dinheiro, compra a mercadoria força de trabalho do operário por seu valor justo, o salário. Trata-se de contrato jurídico firmado entre possuidores iguais e livres de mercadorias em que
tudo que acontece é o melhor que pode acontecer no melhor dos mundos possíveis”. Deste modo, “a esfera da circulação ou do intercâmbio de mercadorias, dentro de cujos limites se movimentam compra e venda de força de trabalho, era de fato um verdadeiro éden dos direitos naturais do homem. O que aqui reina é unicamente Liberdade, Igualdade, Propriedade e Bentham”. Entretanto, esta troca livre tem como surpreendente resultado a transformação de parasitas sociais improdutivos em bilionários com um sorriso no rosto, ao mesmo tempo que condena o trabalhador produtivo à fadiga, à miséria. No decurso do estudo sobre o processo de produção capitalista, Marx nos revela que não só o operário, em expressiva parte de sua jornada de trabalho, está produzindo gratuitamente para seu capitalista, ou seja, produzindo mais-valia, como o capital que este adianta para comprar sua força de trabalho na forma de salário é, na verdade, trabalho excedente apropriado privadamente, de forma que o operário recebe por seu trabalho o produto de seu próprio trabalho. A condição para a apropriação privada do trabalho social é, na História, a separação violenta do trabalhador de seus meios de produção – a terra, o ofício, as corporações. O capitalista não passa de um expropriador. Os US$ 8 bilhões de Hiroshi Yamauchi não são nada além de trabalho alheio apropriado por um parasita que, no processo, impede o desenvolvimento pleno das condições de produção sociais. Seu modo de produzir o “revolucionário” Wii não só impede que a maioria da humanidade desfrute deste como impede que se vá, historicamente, além dele. Vejamos o sorriso e “expressão marcante” do larápio expropriador Yamauchi quando soar a hora final da propriedade capitalista, quando finalmente a classe operária, restituindo o produto social a quem o pertence, levar a cabo a expropriação dos expropriadores.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Nintendismo ou Barbárie!

A consciência abstrata que se tem do mundo burguês tende, de forma imediata, a naturalizá-lo; o modo de produção capitalista é tido, neste sentido, como meta-histórico, ou melhor (na análise dos quadros da burguesia como os economistas políticos clássicos ou o sociólogo Max Weber), como produto do fim da História, quando já se teria atingido a racionalização total da organização da vida. Mas uma descrição minuciosa e crítica (e crítica em virtude de ser descrição objetiva, segundo aponta seu autor) como a realizada por Marx em sua obra demonstra que o capitalismo, de modo algum, é absoluto como o tomam os economistas burgueses e todos aqueles mergulhados na consciência por ele determinada. Pelo contrário, é necessário demonstrar seu caráter especificamente social; é preciso historicizá-lo. E mostrar o caráter histórico e não natural do modo de produção capitalista significa não só demonstrar sua gênese e suas particularidades, mas também apontar seu devir (e é este o sentido da obra do revolucionário alemão, particularmente da síntese atingida em O Capital). Detenhamo-nos, portanto, em alguns aspectos do desenvolvimento necessário das contradições postas pela análise marxista-nintendista.


A riqueza das sociedades capitalistas aparece como uma imensa acumulação de mercadorias, como coloca Marx já no começo de O Capital. A questão da aparência é fundamental. Não se trata de dizer que a forma sob a qual os produtos sociais circulam seja falsa, mas sim que esta é a forma imediata com que o modo de produção se apresenta às consciências individuais (e não à toa esta é a razão por que é daí que seu estudo parte). A mercadoria, evidentemente, não é, aqui, estática; apresenta contradições que se desenvolvem a olhos vistos quando a consciência sobre o processo social de produção se determina. Ela pressupõe a propriedade privada: trabalho social só se relaciona com outro sob a forma de valor, isto é, as relações entre produtores só aparecem como relações entre coisas porque o processo se baseia na propriedade privada dos meios de produção; assim, o produto de um processo produtivo que a burguesia tornou social é apropriado privadamente. O modo de produção capitalista, deste modo, não é somente processo de produção de valor-de-uso, de produção da vida, mas, em essência, é processo de produção de mais-valia. Marx ironiza: o produto, de propriedade do capitalista, é um valor-de-uso, fios, calçados etc. Mas, embora calçados sejam úteis à marcha da sociedade e nosso capitalista seja um decidido progressista, não fabrica sapatos por paixão aos sapatos. Na produção de mercadorias, nosso capitalista não é movido por puro amor aos valores-de-uso. Produz valores-de-uso apenas por serem e enquanto forem substrato material, detentores de valor-de-troca. E só lhe interessam os valores-de-troca na medida que sua produção proporcione larga fatia de mais-valia, ou seja, que as mercadorias produzidas contenham mais valor, mais trabalho vivo incorporado, do que o que pagou para dispor da força de trabalho de seus operários e nos meios de produção envolvidos. Em sua sede por lucro, o capitalista, este mero agente do processo de valorização do valor, explora à exaustão a força de trabalho da qual dispõe em totalidade, uma vez que pagou por ela seu valor, o salário, mediante contrato, e os únicos limites a esta exploração são os do esgotamento completo do trabalhador e aqueles impostos pelas leis de regulamentação da jornada de trabalho, provenientes da necessidade de garantir a igual exploração pelos diversos capitalistas e das históricas lutas da classe operária por sua sobrevivência. A avidez por mais-valia do capital consome gerações e gerações de operários, torna-os física e intelectualmente miseráveis, embrutece-os, tudo em nome de uma classe de gordos abastados; é difícil conceber que os princípios surgidos com os altivos homens da Grécia Antiga, onde surge historicamente a propriedade privada, terminariam por, nas palavras de Marx, transformar alguns arrivistas grosseiros ou semicultos em grandes fabricantes de salsichas e influentes comerciantes de graxa. Uma vez que a produção capitalista só desenvolve a técnica e a combinação do processo de produção social exaurindo as fontes originais de toda a riqueza – a terra e o trabalhador, o capitalismo representa o empobrecimento de toda a humanidade.

Pela maior fatia da mais-valia no processo social competem os diversos capitalistas individuais; a competição entre os capitais privados determina uma necessidade de produzir mercadorias cada vez mais baratas, isto é, com cada vez menos trabalho cristalizado. Este impulso imanente se realiza quando as contínuas necessidades de reestruturação produtiva (como reconfiguração da forma de trabalho e como incremento tecnológico na linha de produção), essência da burguesia – a burguesia não pode existir sem revolucionar permanentemente os instrumentos de produção, portanto as relações de produção, portanto as relações sociais todas, como já colocava o Manifesto –, permitem igual produção em menos tempo, o que significa, para manter a taxa de mais-valia (que nada mais é do que trabalho excedente apropriado), necessidade de demissão de operários que se tornam supérfluos no processo geral da fábrica. Para manter seus lucros, a burguesia necessita de destruir a fonte deles, o que configura uma tendência permanente à sua crise geral, também a crise social das classes produtivas. Com o impulso que move a classe capitalista não sendo a produção racional da vida humana mas seu interesse pessoal, e movida pelas necessidades irracionais engendradas pela arbitrariedade da divisão social do trabalho representada pela mercadoria, produz-se o caos da irracionalidade urbana, o desemprego em massa, a exploração total do trabalhador produtivo, a destruição progressiva da natureza, questões que se colocam com urgência ao anunciar um futuro de barbárie completa não reservado aos homens. Aqui, o que restar de seres humanos terá diante de si o regresso total das forças produtivas, e viverá tal como viviam os homens nas cavernas. Riscará as paredes destas, bruto. Brincaremos com gravetos e pedras. É esta a tendência geral deste modo de produção – o colapso: colapso de si próprio e colapso da própria humanidade.


A burguesia foi, no entanto, inegavelmente revolucionária. O programa político que esboçou e que colocou de forma violenta para destruir a velha ordem, seja, por exemplo, pela ditadura revolucionária de Oliver Cromwell no século XVII inglês, seja pelo Terror jacobino nos fins do XVIII na França, é, na verdade, expressão do progresso histórico que realizou na forma de produzir a vida. O que a mercadoria tem de revolucionário e progressista? A mercadoria, no momento em que se generaliza, isto é, somente no capitalismo, é a negação da produção do artesão, do indivíduo isolado. Sua racionalidade produtiva superior, aonde quer que chegue em nível global, arranca o pequeno produtor em modos de produção anteriores de seu isolamento, e os coloca na rota da História Universal. Os preços baratos das suas mercadorias são a artilharia pesada com que a burguesia deita por terra todas as muralhas da China, com que força à capitulação o mais obstinado ódio dos bárbaros ao estrangeiro; é a burguesia que possibilita, pois, o estabelecimento de uma civilização mundial, e a possibilidade material – e não só ideal, como na Declaração que escreve durante a Grande Revolução de 1789 – de realizar a igualdade existente em potência entre todos os homens. O novo modo de produção, o moderno modo de produção, o qual ela engendra, é a socialização e organização superior do trabalho; é, em princípio, embora esta surja empiricamente logo em seguida, a indústria. A indústria agrega (não sem, claro, fazê-lo de forma violenta, como expropriação) os homens sob regime de cooperação dentro da fábrica, visando à produção em série, em massa, de forma racional, em oposição ao camponês que, no mundo feudal, lutava para produzir na terra, com recursos escassos e com o trabalho de sua família, sua subsistência e o produto excedente apropriado pelo proprietário dela, do mesmo modo que seu equivalente urbano, o artesão que realiza o mesmo limitado processo produtivo com suas ferramentas. Camponês expropriado, alfaiate, sapateiro, tecelão etc, homens livres, libertos de qualquer laço com a terra, com a hierarquia, com a comunidade, tendo como propriedade apenas a si próprios, sua força de trabalho a vender no mercado, são reunidos, agrupados sob o controle do capital, e, deste modo, submetidos a uma organização superior do trabalho.

Como princípio, a indústria que surge capitalista é uma conquista humana. E as conquistas da burguesia são as conquistas da humanidade na medida que destroem as ordens anteriores à capitalista e impõem o trabalho social e libertam o homem dos laços que o prendiam. Rompendo as barreiras dos ofícios e das nações (Marx cita um trabalhador francês do ofício da tipografia que, após ter trabalhado, na Califórnia, como mineiro, telhador, tipógrafo e metalúrgico, vê a possibilidade de desempenhar qualquer espécie de trabalho, e, no mundo dos aventureiros que trocam de profissão mais facilmente do que de camisas, sente-se menos molusco e mais homem; a América é, neste sentido, o homem totalmente livre), arrancando o homem da vida embrutecedora do campo e o levando à cidade, onde pode se realizar como sujeito coletivo, o progresso histórico da burguesia foi produzir a moderna e internacional classe operária, que carrega em si o futuro, isto é, a indústria, a cooperação produtiva, o internacionalismo, enfim, a libertação do homem.

A indústria produziu entretenimento para a vida, seus modernos recursos permitiram que viessem à tona os videogames: o homem pode, agora, exercer suas potencialidades criativas e intelectuais em sofisticados aparelhos como o SNES, N64, Nintendo Wii e Playstation 2. Não só tais recursos produziram a tecnologia do entretenimento, como permitem que se a produza em massa. Potencialmente, podemos produzir videogames para toda a humanidade. Esse progresso, evidentemente, tem limites; e estes limites são os da propriedade privada. A socialização do trabalho esbarra no fato de que os corpos produtivos, os trabalhadores coletivos, são controlados e organizados pelos capitais privados. Embora este controle sobre a produção social seja muito mais amplo do que os anteriores, o mundo burguês criou forças produtivas muito superiores a tal limite, e os crescentes progressos técnicos colocam a necessidade de aumentar a cooperação social entre os produtores. A tendência já citada de que o capital, a cada avanço técnico que diminui o tempo de produção, ou seja, liberta o homem de horas de trabalhado, precisa demitir seus trabalhadores – destruir força produtiva humana –, é a expressão mais clara dessa contradição. O homem não pode desfrutar dos avanços que criou, e aqui pensamos claramente nos videogames, porque ou é exaurido na fábrica de um capitalista ou morre de fome nas ruas, sem emprego, força produtiva desperdiçada. A propriedade privada já não comporta a socialização e racionalização total do trabalho às quais a História a empurra. A História, exige, portanto, sua supressão. Ela quer o controle total da produção nas mãos da universal classe operária. Ela quer a transformação da sociedade inteira em fábrica, levar a todos os setores da vida o princípio racional da cooperação que existe na linha de montagem e que a burguesia não pôde terminar de generalizar. O homem livre para usufruir de progressos que a ciência, solta das amarras do capital, poderá levar muito além do que oferece no presente. O PeopleStation, videogame produzido pelas massas e para as massas, é o futuro radiante que espera a humanidade sob a direção da classe operária, não mais classe, mas confundida com o próprio homem.


É uma tendência comum à esquerda vulgar e à burguesia pensar a naturalidade e a permanência das relações capitalistas de produção, e a superação da análise científica do marxismo quando este decreta a inevitabilidade da revolução proletária. Neste sentido, falam de fim da classe operária, posto que o capital teria chegado a um momento em que se reproduz sem a necessidade do trabalhado vivo; falam de abstratos movimentos sociais, que substituiriam a práxis transformadora do proletariado nas lutas idealistas por reformas utópicas; falam de neoliberalismo, como se fosse uma opção da burguesia o desmonte de um Estado que se bate, por meio da força, por sua dominação em crise aguda. Enfim, o pensamento vulgar não só não vislumbra a superação dialética da luta de classes (por não vislumbrar, aliás, a própria luta de classes) como não enxerga o desenvolvimento das contradições em direção à barbárie. Tudo cheira a inquietante permanência; a dominação do capital, estática, estende-se ao infinito. Esperando transformações utópicas, que por isso mesmo não virão, o pensamento vulgar conforma-se em pensar que a mudança real é que, passados os anos, estará jogando um Playstation 8. Mas este futuro é, de fato, utópico. O movimento contraditório do capital não comporta este desenvolvimento ao infinito. Neste momento da História, assomam, diante do homem, dois futuros: a sociedade socialista ou a barbárie. Ou o triunfo libertador da classe operária ou a vitória da burguesia, derrota do proletariado, derrota definitiva do homem. O fim do que Marx caracterizou como Pré-História da humanidade ou um retorno à pré-História anterior. Jamais jogaremos Playstation 8. Ou o futuro socialista nos reserva o PeopleStation ou, nas cavernas de um futuro de volta à barbárie, brincaremos com gravetos e pedras.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

MOÇÃO DE APOIO AOS ESTUDANTES DA UnB

O Movimento Marxista-Nintendista declara todo o apoio à legítima e necessária luta dos estudantes que ocupam a reitoria da Universidade de Brasília. A mobilização contra o burocrata Timothy Mulholland se soma às lutas estudantis que se espalham como um levante por todo o Brasil desde pelo menos a ocupação da reitoria da USP em maio de 2007, mas se destaca destas por colocar como princípio aberto, desde sua origem, a questão do poder da burocracia universitária. O conflito entre burocracia e as massas estudantis se coloca de formas diversas nas diversas universidades: luta pelos espaços estudantis, como na FFLCH-USP, onde o diretor da unidade Gabriel Cohn bloqueia o uso dos espaços estudantis para impor sua reforma arbitrária, ou na FAU-USP, onde o diretor Silvio Sawaya pretende preencher os espaços libertários pensados por Vilanova Artigas com lojinhas; luta contra os projetos mais imediatos impostos pela burocracia, como o Redesenho Institucional contra o qual se embatem os estudantes da PUC-SP, ou a completa destruição de todos os cursos da Fundação Santo André colocada pelo reitor Odair Bermelho. É neste sentido que se dá a luta dos companheiros de Brasília: as Fundações Privadas que tomam a UnB (como também a USP e outras públicas), a cujos interesses o reitor Timothy Mulholland se liga intimamente, colocam-se concretamente como um projeto para a universidade, um projeto de apropriação privada de um espaço que já foi criador e libertário. É contra este projeto de destruição que se embatem todos os estudantes do país em cada luta por espaços, por um direito inexistente de se posicionarem nos redesenhos e reformas curriculares, contra a crescente repressão policial dentro dos muros dos campi. Contra o não-projeto dos velhos burocratas que engessam qualquer tentativa de tornar a universidade viva, a luta dos estudantes também se coloca como um projeto. Projeto que, em essência, é o mesmo que, há quarenta anos, colocavam os estudantes desta mesma Universidade de Brasília quando, em meio às nuvens de gás e pólvora dos militares que interrompiam as aulas, decretaram-na Território Livre. E como o não-projeto dos burocratas não se limita a esta ou àquela universidade, também o projeto dos estudantes só pode vencer quando se mostrar como geral, como única perspectiva da juventude diante da falência da velha estrutura – quando todos os estudantes, em conjunto, decretarem a nova universidade, a universidade de uma nova vida. É por essa vitória que se posicionam todos os marxistas-nintendistas.


MOVIMENTO MARXISTA-NINTENDISTA

Diretório de São Paulo-SP

sábado, 24 de novembro de 2007

A luta de classes no Mushroom Kingdom


Alguns camaradas têm expressado dúvidas que revelam incompreensões teóricas, erros teóricos graves. É necessário que sejam esclarecidos, de modo que a total clareza de princípios lhes permita bem exercer o papel de vanguarda e dirigir apropriadamente as consciências não plenamente desenvolvidas.Aparentemente, soa absurdo que Mario, operário, salve a princesa Peach do Mushroom Kingdom, potencial monarca, das garras de Bowser, déspota totalitário e representante real da velha ordem. Mas sua estratégia é traçada por meio da compreensão adequada da análise de Marx a respeito da revolução de 1848 na Alemanha. Ali, o proletariado alemão inexperiente, desorganizado e que ainda não constituía uma força completa na sociedade alemã, era incapaz de dirigir a sociedade recém-industrializada; não havia condições objetivas para que se tornasse a classe dirigente. Mas não poderia tampouco contar com a burguesia alemã, completamente covarde e ainda mais incapaz de defender seu projeto histórico, até mesmo percebendo que o necessário processo revolucionário que o instauraria, envolvendo o povo em armas, poderia (e inevitavelmente iria) muito além do desejado para si como classe dominante. Conta-nos Engels: o ministério da burguesia liberal só dispunha de uma paragem, de onde, segundo o rumo que as circunstâncias tomassem, o país se dirigiria ou para a etapa mais avançada do republicanismo unitário, ou para o velho regime burocrático e clérico-feudal. Deste modo, o próprio proletariado deveria levar a cabo o levante que instauraria as relações burguesas de produção, destruindo de vez as velhas estruturas feudais em uma nova Alemanha unificada e em processo de industrialização.

A este respeito, dizem Marx e Engels na famosa "Mensagem do Comitê Central à Liga dos Comunistas" de março de 1850: mesmo que os trabalhadores alemães não possam atingir o poder e consolidar os seus interesses de classe, terão a certeza, então, que o primeiro ato do drama revolucionário próximo ocorrerá simultaneamente com a vitória direta de sua própria classe na França, e deverão estar vigilantes para isso. Mas deverão realizar por si mesmos a maior parte de sua vitória final, através de esclarecimentos quanto aos seus próprios interesses, imprimindo impulso ao seu partido independente tão cedo quanto possível, e não permitindo que esta organização independente do proletariado vá ao arrastão das frases hipócritas lançadas pela pequena burguesia democrática. Seu grito de guerra deve invariavelmente ser a revolução permanente. A vitória do proletariado em luta ao lado da burguesia e da pequena burguesia liberais sobre o velho regime (e à frente delas, quando se provam não suficientemente progressistas), na tentativa de impôr instituições liberais-democráticas, seria o primeiro passo em direção ao parto da nova sociedade. É o papel que assume Mario. Mario é o próprio proletariado que pega em armas para destruir o feudalismo reacionário, e que, derrubando os estandartes de Bowser nas sucessivas fases, caminha para a unificação do reino e para a destruição das estruturas feudais que Bowser representa. Não se trata de dar por terminada a revolução ao derrubar o tirano, mas de começar a instituir seu poder, de levar adiante a revolução permanente. E, diferente do triunfo da contra-revolução no processo alemão de 48, no qual o sufrágio universal logo deu lugar a uma monarquia reacionária, Mario consegue, após derrotar Bowser, hastear sua bandeira, da estrela vermelha, símbolo da direção que tomará o processo político no Mushroom Kingdom a partir de então: da monarquia constitucional ao pleno poder dos conselhos operários.

Pouco se sabe sobre as condições da luta de classes no Mushroom Kingdom, de modo que esta estratégia proletária poderia, pensada abstratamente, constituir tanto uma leitura perfeita de Marx quanto, como falsificou Stalin em relação às tarefas da revolução democrática, um etapismo traidor. No entanto, o fato de Mario, ao longo do jogo, acumular moedas que se convertem em vitalidade, parece indicar uma necessidade premente de acumulação de capital no reino, ou seja, que o desenvolvimento das forças produtivas ainda é elementar, e que as condições objetivas para a democracia proletária não estão plenamente desenvolvidas; politicamente, tampouco, esta perspectiva parece estar colocada, visto que o poder do reino permanecia ligado aos privilégios feudais. Tudo indica que a estratégia nintendista foi adequada. Mas esta é uma falsa questão. A forma revolucionária de Super Mario World vai muito além de qualquer conteúdo supostamente reacionário ou etapista.

Veja-se o próprio Mario: não é, como aparenta, um indivíduo isolado, uma criatura iluminada que nega sozinho todos os níveis, e portanto uma subjetivação do processo revolucionário; não se trata de um jacobino-blanquista que, com táticas guerrilheiras, pretenderia repetir o triunfo das dúzias de guerrilheiros de Sierra Maestra, como se o triunfo da revolução mundial fosse possível quando pensado de forma completamente alheia ao movimento real da classe operária. Não, Mario não é a vanguarda armada que luta individualmente, mas ali representa toda a classe, como sua vanguarda consciente. Pode-se dizê-lo porque é também incorreto pensá-lo como um simples encanador e, em geral, como assume em outros jogos, parte de setores da pequena burguesia (carpinteiro, pintor, médico, cozinheiro): Mario, portando apenas macacão e quepe vermelhos e bigodes, típicos do movimento operário italiano, é a classe operária em sua totalidade, sem qualquer traço das divisões profissionais e nacionais que a burguesia faz crer que existam nas diversas categorias como forma de separar a classe. Representa a classe operária não no sentido da democracia burguesa ou no sentido de uma abstração; Mario é a generalidade concreta, a universalidade concreta que, como tal, contém em si todos os particulares concretos e está contido em cada um deles. Mario é proletário e nada mais; superou todas as particularidades para fazer-se universal.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Nintendo e Revolução


Pensar que a pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico ainda podem se converter em bem-estar material para o ser humano é, no mínimo, um anacronismo. Esta mentalidade pode se referir a um momento na História em que a acumulação capitalista minimamente acarretava algum progresso para a sociedade. Mas as forças produtivas da humanidade não crescem mais. O capitalismo só se reproduz às custas da destruição da humanidade; e a crise do sistema de produção também é a própria crise de toda a superestrutura necessária para mantê-la e de tudo o que ela produziu - e aqui me refiro à morte da própria cultura burguesa.O exemplo da pesquisa para o desenvolvimento de games é extremamente representativo. Pensemos um PS3, a última novidade dos baluartes do capital internacional e signo da suposta bem-aventurança da sociedade burguesa. Ora, quem os produz? Toda a indústria dos países capitalistas maduros (o Japão, no caso da Sony) baseia sua produção nos países de desenvolvimento atrasado, onde o menor desenvolvimento das forças produtivas e o estágio primário das lutas operárias permite uma maior taxa de extração de mais-valia - China, Singapura e Taiwan, por exemplo. Por centavos a hora, trabalhadores asiáticos em condição semi-escrava semelhante à dos ingleses do século XIX produzem os videogames que serão consumidos no mundo capitalista desenvolvido. E toda a pesquisa no setor dos games e da alta tecnologia produtiva vai no sentido de aumentar o valor destas mercadorias e de aumentar o valor acumulado das máquinas que as produzem. Isso significa menos horas de trabalho social necessárias para a produção, e, conseqüentemente, na divisão social capitalista do trabalho, demissão dos operários cujo trabalho torna-se desnecessário e o aumento da exploração dos que ficam.

Todos os avanços tecnológicos, deste modo, significam apenas o aumento da exploração da classe trabalhadora e, principalmente, o engrossamento da enorme massa de desempregados condenados à completa barbárie em que se afunda o mundo burguês: o caos urbano (São Paulo tem 60 km² de favelas), a miséria generalizada, a destruição da natureza (e vale lembrar o que tem significado o desenvolvimento industrial para esta: 2007 será o ano mais quente da História). Tal é o resultado do capitalismo em decomposição. Nas palavras de Marx: quanto mais o mundo das coisas aumenta de valor, mais o mundo dos homens se desvaloriza.Ora, é de se questionar se é possível, de qualquer modo, justificar que o capitalismo se reproduza destruindo o planeta e a humanidade. Quando se considera a cultura em nome da qual se poderia fazê-lo, é ainda mais absurdo. Como defender o capital valendo-se da arte burguesa, da produção cultural burguesa, todas mortas e já enterradas faz tempo? A burguesia já não possui um projeto histórico; não produz mais nada de minimamente progressista, e limita-se a consumir o cadáver de uma cultura datada de seus tempos de abundância; tudo o que faz é uma paródia grotesca do que já fora. Por exemplo, que dramaturgo superou, nas décadas subseqüentes, o que Oswald de Andrade fez em 20 e 30? O que se faz hoje em qualquer campo da cultura é uma piada de mau gosto se comparada às vanguardas do século XX. E não é diferente com os videogames. A cada geração que se sucede, aumenta a paródia. Todos os games caminham no sentido de um realismo ridículo, os poderosos gráficos dos moderníssimos consoles aproximando-se cada vez mais da imitação do mundo sensível, cada vez mais um mero espelho da realidade e cada vez menos um martelo para quebrá-lo. As deficiências do último Winning Eleven não são superadas, e por mais que epitelialmente sua estética se aproxime da de um jogo de futebol, parece cada dia mais distante o momento em que se poderá dizer que o International Superstar Soccer originário foi ultrapassado.

É como comparar o que um Glauber Rocha ou um Godard fizeram na década de 60 com o que o cinema enlatado faz hoje. A arte burguesa morreu, e consumimos seu cadáver. No entanto, no campo da cultura, é possível perceber resquícios de criação que apontam para o futuro. A Nintendo, vanguarda do entretenimento nas décadas anteriores, por exemplo, lança seu Wii (não à toa batizado originalmente de Nintendo Revolution), no qual rompe com a forma-joystick que ela própria elevara à máxima potência, e que, apesar de apresentar as mesmas figuras de suas antigas plataformas (Mario, Donkey Kong, Link - ainda por superar, frise-se), coloca uma perspectiva de retomar a evolução dos videogames que anda a marcha lenta desde a era dos 128 bits. Mais do que um projeto específico de videogame, a Nintendo demonstra que é possível uma nova cultura, uma nova forma de entretenimento. Mas esse projeto é completamente irrealizável dentro dos limites da legalidade burguesa. Como usufruir desses videogames num mundo em que cada vez há menos emprego, e em que os que ainda têm trabalho, são cada vez mais exauridos? Há tempos que esta divisão social do trabalho atravanca o desenvolvimento das forças produtivas. Não é mais possível realizar toda a potencialidade da arte e do entretenimento, uni-los à vida, enquanto o modo de produção capitalista não for superado. Tal é o princípio marxista-nintendista.